O combate ao mosquito transmissor da dengue ganhou importantes aliados nas regiões do Paraná onde há mais casos da doença. Alunos de escolas da rede estadual de ensino estão se tornando agentes de transformação para além da sala de aula, disseminando informações e auxiliando as comunidades na prevenção da proliferação do Aedes aegypti.
A mobilização é fruto de ações de conscientização implementadas nos colégios pelos próprios professores. As atividades alertam para os perigos da doença e incentivam práticas simples, como o descarte correto de recipientes que acumulam água, o uso de repelentes e a limpeza adequada dos espaços domésticos.
BLITZ PEDAGÓGICA – Para reforçar a importância da prevenção, alunos do Colégio Estadual Professor William Madi, de Cornélio Procópio (Norte Pioneiro), realizaram na semana passada uma blitz pedagógica no entorno da escola. A atividade foi proposta pela professora Maria de Fátima Pereira da Silva, do componente curricular de ciências e práticas experimentais.
Acompanhados por agentes do Batalhão de Patrulha Escolar Comunitário (BPEC), os alunos abordaram motoristas e pedestres, entregando sacos de lixo e também panfletos informativos para o descarte correto de materiais, como dejetos e entulhos, que possam favorecer a proliferação do mosquito.
Outra ação proposta pela escola visa estimular a criatividade dos estudantes no combate à doença.
“Estamos promovendo um concurso envolvendo toda a escola, onde os alunos vão criar um slogan e uma imagem sobre o tema, e os mais criativos vão ganhar prêmios. É uma maneira de ensinar, prevenir e conscientizar ao mesmo tempo”, destaca a professora Thaiane Aline Machado.
MATEMÁTICA NO COMBATE – Em Manoel Ribas, na região do Vale do Ivaí, professores do Colégio Indígena Gregório Kaekchot uniram o aprendizado da matemática à prevenção, por meio da disciplina de estatística, na qual os estudantes aprendem a elaborar gráficos e tabelas.
A partir do levantamento de dados numéricos referentes à transmissão de casos da doença nas regiões próximas da escola, os alunos elaboraram gráficos que serviram para mapeamento dos locais de maior risco.
O material foi interpretado e utilizado na formulação de estratégias que contemplaram desde o combate aos focos até a confecção de boletins informativos na língua kaingang. A ação envolveu mais de 900 alunos.
“Mostramos a eles que a matemática pode ter mais utilidade do que contas de somar ou dividir, que ela pode ser útil em outras áreas também”, ressalta a professora Ana Paula Heerdt.
“A área indígena precisa de um cuidado ainda mais especial, já que as casas e as próprias pessoas vivem muito próximas. Por isso, a importância de fomentar e articular políticas, projetos e ações dentro da comunidade escolar para o combate ao mosquito”, completa a diretora da escola Cristiane Laureth.
PALESTRAS E OUTRAS AÇÕES – Para informar de forma direta e eficaz sobre a importância de combater a dengue, diversas escolas da rede cederam espaço para a visita de especialistas que compartilharam com a comunidade escolar estratégias e ferramentas que podem ser adotadas na luta contra a doença.
Em Santo Antônio da Platina, técnicos do projeto “A Saúde Vai à Escola”, programa da Secretaria Municipal de Saúde, promoveram uma palestra para os alunos do Colégio Estadual Tiradentes. Os estudantes puderam tirar dúvidas e aprofundar seus conhecimentos a respeito da doença.
O Colégio Estadual do Parque Itaipu de Maringá, no Noroeste do Estado, também abriu as portas para os profissionais da saúde. Por meio de uma roda de conversa, promovida pela Secretaria Municipal de Saúde em parceria com o Núcleo Regional de Educação de Maringá (NRE) e o Serviço Social do Comércio (Sesc Paraná), os alunos do 6º ao 9º ano tiveram a oportunidade de esclarecer dúvidas e compartilhar experiências, reforçando o alerta sobre os cuidados necessários.
Carlos Henrique Damasceno, professor de ciências da natureza, foi um dos incentivadores da iniciativa. “Nosso objetivo é que os alunos possam agir em seus bairros, tirando fotos de possíveis criadouros, trazer para a sala de aula, e também orientar familiares e vizinhos, atuando como multiplicadores de ações de prevenção”, diz.
Ana Melissa Alves Dias, de 14 anos, está matriculada no 7° ano. A estudante já teve dengue e precisou ficar internada. Ela reconhece a importância das ações. “Minha pressão baixou muito. Fiquei bem mal durante dias. Por isso, é importante a conscientização. Para que ninguém precise passar por isso para entender a importância da prevenção”, explica.
Kevin Faria de Andrade, do 8º ano, já sabe onde os mosquitos costumam se reproduzir. “É uma doença muito perigosa que pode levar até a morte. Por isso a população tem que ficar alerta para não deixar água parada dentro de pneus, sacolas, garrafas, tampinhas”.
NA PRÁTICA – Além do diálogo, outras ações práticas também foram implementadas pelos alunos a partir dos conhecimentos adquiridos em sala de aula.
No Colégio Estadual Cívico Militar Stella Maris, em Andirá, alunos 6° ano desenvolveram uma iniciativa para ajudar na identificação do lixo. Eles confeccionaram adesivos especiais que foram colados em sacos plásticos reforçados, indicando claramente o conteúdo.
A medida permite que as equipes sanitárias identifiquem facilmente os descartes com potencial foco de dengue e providenciem a destinação correta para esses resíduos.
Já em Londrina, na região Norte, estudantes do Colégio Estadual Vicente Rijo foram às ruas. Acompanhados pelas equipes pedagógicas, eles participaram de ações de recolhimento de lixo e limpeza de terrenos baldios, eliminando criadouros do mosquito.
“Ao propagar informações sobre a dengue integrando-as a várias disciplinas, como ciências, geografia, saúde e até mesmo matemática, os professores da rede incluem a prevenção no currículo escolar de forma interdisciplinar e relevante para a vida cotidiana dos alunos”, destacou o secretário de Estado da, Educação, Roni Miranda. “Com isso, nossos estudantes têm se tornado verdadeiros agentes de mudança em suas comunidades”, reforça.