Primeiro debate: Bolsonaro explora corrupção e Lula a pandemia

O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se enfrentaram neste domingo (16), no debate promovido pelo pool de veículos formado pelo Grupo Bandeirantes, a Folha de S.Paulo, o UOL e a TV Cultura.

Foi a primeira vez em que ficaram frente a frente em um embate direto, sem a presença de outros candidatos, os adversários protagonizaram uma série de trocas de farpas, discussões e acusações mútuas de corrupção.

Bolsonaro iniciou sua primeira fala acusando parlamentares do Partido dos Trabalhadores (PT) de terem votado contra a ampliação do Auxílio Brasil para R$ 400 mensais – o que foi desmentido pelo petista. “Só de auxílio emergencial gastamos o equivalente a 15 anos de Bolsa Família. Eu tinha vergonha de ver as pessoas mais humildes, especialmente no interior do Nordeste, começando a receber R$ 42. Se podia dar algo melhor, por que não deu lá atrás”, questionou o presidente, em claro aceno ao eleitorado nordestino, que majoritariamente votou em Lula no primeiro turno.

Em outro momento, o presidente também falou sobre a visita do petista ao Complexo do Alemão, afirmando que “não tinha um policial acompanhando, apenas traficantes”, e questionou Lula sobre Petrolão, falando em “maior escândalo da história da humidade”. “Lula, você tem muito a falar sobre corrupção. A responsabilidade pela corrupção no Brasil foi sua”, disse Bolsonaro.

Já o ex-presidente Lula iniciou suas falas questionando se o presidente da República não sente o “peso das 400 mil mortes” pela Covid-19 que, segundo ele, poderiam ser evitadas, caso a compra das vacinas tivesse sido mais rápida. “Atrasou a vacina, teve processo de corrupção denunciado pela CPI. A sua negligência fez que 380 mil pessoas morressem. O senhor não cuidou [da população]. Debochou, riu, disse que quem tomasse vacina virava jacaré, gozou das pessoas morrendo sem oxigênio”, disse o candidato do PT, que voltou a criticar ações de Bolsonaro na pandemia: “Você poderia ter comprado vacinas antes. Tratava a pandemia como uma gripezinha, colocou sigilo no seu cartão de vacina”, concluiu.

Em outro momento, Luiz Inácio chamou Jair Bolsonaro de “rei das fake news” e questionou o presidente a respeito de quantas universidades e escolas técnicas a atual gestão construiu, pergunta não respondida pelo presidente. ”Bolsonaro não quer dizer que vergonhosamente ele só fez uma universidade no Tocantins, que a Dilma já tinha aprovado.”

Momento em que Jair Bolsonaro coloca a mão no ombro de Lula. Reprodução/Band

Lula também se colocou como responsável pela maior política de infraestrutura, criticou o atual governo pelo desmatamento na Amazônia e falou sobre escândalos de corrupção do atual governo. Também rebateu Bolsonaro sobre a paternidade da transposição do Rio São Francisco, afirmando que, na realidade, seu governo foi responsável por 88% das obras e a atual gestão, apenas por 3,5%. ”Você acha que alguém acredita que foi você que levou água? Não tem um projeto seu. Quando era deputado nunca fez um discurso contra o governo Lula. Ele não fez porque no fundo sabe que fui o presidente que mais cuidei do país”, disse o petista.

Outro momento acalorado foi quando o presidente Jair Bolsonaro questionou o motivo do petista não ter transferido Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do PCC, para um presídio federal, quando era presidente. “Teve que eu chegar junto com Sergio Moro para tirar Marcola e mandasse para um presídio federal. Por que não transferiu? Era simpatia, amizade?”, questionou Bolsonaro, citando a morte de 59 policiais no período. Em resposta, Luiz Inácio disse que o adversário sabe que o governo do PT criou cinco prisões de segurança máxima. “Quantos você fez? Nenhum”.

Reprodução/Band

Líder das pesquisas de intenções de votos no segundo turno, o candidato do PT foi ainda questionado quem será o seu ministro da Economia, se eleito, mas não respondeu.

Ao longo do debate, ambos candidatos também responderam perguntas de jornalistas a cerca de temas diversos. A primeira pergunta foi a respeito da criação de novas vagas ao Supremo Tribunal Federal e se os adversários se comprometeram a não aumentar o número de ministros, o que ambos confirmaram.

Bolsonaro também falou sobre a política de preços dos combustíveis, defendendo a redução do ICMS, citando deflação pelo terceiro mês consecutivo e falou em “Brasil no caminho certo com Paulo Guedes”, ministro da Economia. Sobre a possível privatização da Petrobras e valores dos combustíveis, Lula respondeu que o preço não deve ser dolarizado e se posicionou contra a venda da estatal. “Privatização não é solução para nada”, disse o petista.

Em outra questão dos jornalistas, a respeito de fake news de ambas campanhas, o candidato do PT defendeu que as propagandas eleitorais sejam reguladas e falou em combater a divulgação de notícias falsas. Já Bolsonaro usou sua resposta para comentar sobre as acusações de pedofilia que repercutiram nas redes sociais durante o final de semana, após uma fala do presidente em um podcast.

Antes mesmo do debate começar, Bolsonaro já havia comentado sobre o suposto caso de pedofilia. Em conversa com a imprensa, o presidente falou em “acusação infame e sórdida” e culpou Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores, por ter “potencializado” o assunto – que ele nega ser verídico. “Tentaram me atingir naquilo que é mais sagrado a mim: a defesa da família e das crianças”, afirmou o presidente.

Segundo Bolsonaro, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, assinou despacho pela retirada de todos conteúdos que façam menção à acusação, afirmando que a fala foi “sabidamente inverídico, com grave descontextualização e aparente finalidade de vincular a figura do candidato ao cometimento de crime sexual”.

Os próximos debates em outras emissoras já estão marcados, mas ainda não há confirmação das campanhas se os candidatos estarão presentes.

Jovem Pan

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