O mês de junho foi extremamente seco no Paraná. A atuação de bloqueios atmosféricos com formação de uma extensa massa de ar seca e quente, impediu o avanço das frentes frias no Estado, culminando em um mês praticamente sem registro de chuvas no Norte e Noroeste, com anomalias de precipitação inferiores à média histórica em todas as regiões.
A água disponível no solo, que representa a disponibilidade hídrica para as culturas, foi extremamente crítica, atingindo o nível zero em grande parte do Estado.
Comportamento das culturas
O acumulado de chuvas do mês de junho não foi suficiente para atender as necessidades das culturas no campo.
Os boletins semanais do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral), trouxeram a influência das condições climáticas do mês de junho. Acompanhe como reagiram as culturas em algumas regiões da Cocari.
Trigo
A semeadura do trigo atingiu 96% no final de junho e teve algumas interrupções ao longo do mês pela falta de umidade do solo. Nas regiões mais tardias a condição foi favorável devido às chuvas ocorridas do fim do mês. As lavouras mais precoces, implantadas em abril, enfrentaram secas e temperaturas mais elevadas e apresentaram condições de desenvolvimento ruins, como baixo crescimento, folhas amareladas, germinação lenta e desigual, menor número de perfilhos e redução no potencial produtivo.
Este foi o cenário também na região da Cocari. Conforme esclarece o consultor técnico Edinei Melo, da regional de Jandaia do Sul, nos municípios de Bom Sucesso, Mandaguari, Jandaia do Sul, Itacolomi, Cambira e Novo Itacolomi, a situação foi complicada para as lavouras de trigo plantado no início de maio, com problemas na germinação. As sementes que germinaram em junho, nasceram fracas, com falta de vigor. “Hoje, os 60% que germinaram desse trigo estão em florescimento, mas as lavouras estão com padrão muito fraco em razão das altas temperaturas”, lamenta.
Ele acrescenta que o trigo plantado no final de maio e início de junho germinou bem, teve bom estande, mas devido à falta de chuva de 28 de maio até dia 6 de julho, ocorreu o amarelecimento, morte de perfílho. “O trigo é uma cultura sensível tem ainda a questão do solo, de manejo do produtor. O que tem manejo melhor, com plantadeira mais nova, tecnologia melhor, a lavoura sentiu menos”, aponta.
Melo comenta que a catástrofe do trigo na região deixou o produtor um tanto desanimado e em torno de 2% das lavouras estão abandonadas. “Há uma expectativa pós chuva de que essas lavouras plantadas no final de maio e junho, tenham uma recuperação, e que o produtor tenha um melhor rendimento, mas o trigo está muito comprometido na região, as perdas são bem significativas”, conclui.
Milho 2ª safra
Nas áreas da Cocari, assim como na maioria das regiões do Paraná, o clima seco e quente, favoreceu a colheita de milho 2ª safra. “O milho não teve interferência das altas temperaturas, estamos tendo boas produtividades”, informa o consultor do Departamento Técnico da Cocari, Jhon Mayk Cintra.
No Estado, no entanto, a seca persistente provocou redução na produtividade, especialmente. Apesar disso, a qualidade da maioria dos grãos colhidos foi satisfatória. Algumas áreas que apresentaram condições ruins foram destinadas à silagem ao invés de grãos. No final de junho, 90% das lavouras estavam na fase de maturação e 10% na frutificação.
Café
A colheita do café no Estado evoluiu de 15% em maio para 47% em junho, favorecida pelo tempo seco, mas limitada pela disponibilidade de mão de obra. O processo de secagem natural dos frutos ao sol também foi beneficiado pela ausência de chuvas. A taxa de conversão do café em café beneficiado, denominada renda, foi baixa, e isso ocorreu devido à quantidade relevante de grãos miúdos, provocado pelas altas temperaturas e longos períodos de estiagem durante a safra.
Na região da Cocari, conforme esclarece o consultor Técnico Patrick Rodrigues de Souza, as altas temperaturas não se limitaram a junho. “O café começa a formação de grão em novembro. Tivemos dias muitos quentes nos meses de dezembro, janeiro, fevereiro, e a planta já começou a sentir. Com temperaturas acima da média, e falta de chuva na fase de granação, os grãos de café sofrem redução do peso. Em maio e junho, o grão já estava praticamente formado, e muitos produtores já estavam em colheita”, informa.
Segundo o técnico, muitos produtores não fizeram o beneficiamento café ainda, portanto não é possível afirmar com precisão a produtividade. “Mas temos o caso de um produtor que normalmente colhe, em média, 55 sacas por hectare, e esse ano colheu a média de 40 sacas por hectare, cerca de 25% de quebra na produtividade”, pondera.
O consultor explica que as altas temperaturas trazem vantagens e desvantagens na cultura do café. A desvantagem é a renda mais baixa, a peneira fica menor, e a produtividade por hectare diminui. Mas o café tem a vantagem de que, quanto mais calor, os grãos ficam mais saborosos, mais doces. “Nós medimos em algumas áreas o grau Brix, que mede o teor de açúcar do grão, e chegou a passar de 30%. Normalmente fica entre 20 e 22%. Isso é muito bom, o açúcar aumenta a qualidade do grão”, aponta.
Pastagens
No Noroeste do Estado, área da Cocari, principal região de bovinocultura de corte do Paraná, os pastos apresentaram baixo volume de massa verde, dificultando o manejo do gado e com necessidade de suplementação com ração e silagem, o que eleva o custo de produção.
Redação Cocari, com informações da AEN