Mensagens Personalizadas

APUCARANA: Centro Pop garante direitos, promove reintegração familiar e oferece oportunidades a pessoas em situação de rua

As pessoas em situação de rua que desejam estão conseguindo verdadeiras transformações de vida em Apucarana. Somente neste ano, dez pessoas foram reinseridas nas famílias de origem. São histórias que emocionam e provam que políticas públicas podem mudar destinos.

O prefeito Rodolfo Mota afirma que cada retorno ao lar é muito comemorado pela equipe da Assistência Social, pois a reintegração não é uma tarefa simples. “Exige tempo, criação de vínculos e uma rede de atendimento estruturada”, pontua.

Em Apucarana, esse trabalho é coordenado pelo setor de Proteção Social Especial, juntamente com o Centro Pop.  No começo do ano, conforme a secretária de Assistência Social, Fabíola Carrero, havia apenas quatro pessoas para fazer o acolhimento desse público no Centro Pop, equipe que foi triplicada e hoje soma 12 servidores.

A secretária explica que o primeiro passo visando a reintegração familiar acontece nas ruas. A equipe de abordagem social identifica uma pessoa em situação de rua, estabelece diálogo e coleta informações — nome, origem, fragmentos de lembranças familiares. A partir daí, inicia-se um processo de busca ativa, com ligações, consultas em cadastros sociais e contato com prefeituras de outros municípios.

Quando há retorno positivo, a coordenação do Centro POP aciona a família para verificar a possibilidade de acolhimento e convivência, respeitando sempre a decisão da pessoa, que precisa aceitar retornar. Esse processo é cuidadoso e pode levar semanas ou meses, dependendo do estado de saúde da pessoa, da distância geográfica e da receptividade dos familiares. 

Caso José Teles – Há atendimentos que são emblemáticos e logo vêm à memória da equipe. José  Teles tem 65 anos e ficou 35 anos longe de casa. Ele foi encontrado pela equipe da abordagem social da Prefeitura nas imediações do Cisvir. Apresentava um quadro de confusão mental e desorganização.

“Ele forneceu fragmentos de informações sobre o passado. Lembrava do primeiro nome de uma irmã e de uma cidade chamada Dourados, no Mato Grosso do Sul”, relata Ananias Branco Gonçalves, coordenador municipal de abordagem social. A partir destas informações, a equipe administrativa do Centro POP iniciou uma investigação detalhada, cruzando dados com o Cadastro Único e redes de assistência de outros estados.

Após dias de contato, a equipe localizou a família. Ao saber, a irmã se deslocou imediatamente de Dourados até Apucarana para confirmar a identidade. “O reencontro foi emocionante. E depois, já em Dourados, a família enviou fotos dele ao lado da mãe, que tem 80 anos de idade e sempre falava que queria vê-lo”, conta a assistente social Edilaine Gabriel Santos Paulo, coordenadora do Centro Pop.

Caso Oscar Serafim – O público atendido é rotativo. Muitos têm o costume de andar por cidades próximas e poucos costumam se fixar. O caso de Oscar Mendonça Serafim, 54 anos, é um dos mais longevos e que também teve um desfecho positivo. Oscar Serafim viveu em situação de rua por mais de sete anos nas imediações do Núcleo Habitacional Castelo Branco, em Apucarana. 

Era conhecido da vizinhança e da equipe de assistência social, que tentava em vão estabelecer vínculo. Aos poucos, Oscar Serafim passou a aceitar conversas, refeições e pequenos atendimentos. A partir das informações que forneceu, foi possível identificar sua origem e familiares em Arapongas.

A equipe do Centro POP entrou em contato com os parentes, que demonstraram surpresa e emoção ao saber que ele estava vivo. O processo de aproximação foi feito de forma gradual com o irmão de Oscar Serafim. “Mantivemos contato com a família e pudemos ver que, após alguns dias no ambiente familiar, ele cortou o cabelo e até a feição dele mudou. Já não era aquela pessoa que a gente encontrava nas abordagens”, observou Branco. 

Ampliação da equipe e reestruturação – Alexandre Machado, diretor de Proteção Social Especial, afirma que no início deste ano o Centro POP contava com apenas quatro profissionais. Atualmente, a equipe triplicou e soma 12 integrantes, incluindo psicólogo exclusivo, recepcionista, administrativo, coordenação, educadores sociais, serviços gerais, assistente social e abordagem social, além de estagiários de psicologia e serviço social.

O Centro Pop, que funciona em imóvel localizado na área central, inicia as atividades partir das 8h com a triagem feita pelo setor administrativo e equipe de educadores sociais. As principais demandas são alimentação, banho, documentos, acolhimento e encaminhamentos. A média diária é de 30 atendimentos. Não há pernoite e o serviço funciona até as 17h. Nos dias chuvosos, a unidade oferece lanche à tarde, além do café da manhã e almoço regulares.

Os encaminhamentos feitos pelo Centro Pop envolvem a rede de proteção social: unidades de saúde, agência do trabalhador e para entidades como a Projeto Renascer (masculino) e a Casa Marta e Maria (feminino).

Acesso a direitos e acolhimento – De acordo com a assistente social e coordenadora do Centro Pop, Edilaine Gabriel Santos Paulo, o objetivo principal é garantir acesso a direitos, acolhimento e escuta sem julgamento. “O atendimento é feito mediante adesão voluntária. A reintegração familiar, como as demais ações, só ocorre com o consentimento da pessoa atendida”, esclarece. 

Mais de 90% das pessoas em situação de rua são homens. “As mulheres nas ruas também estão sujeitas à violência sexual, por isso é trabalhado com elas a questão do corpo, dela se entender enquanto mulher para poder se posicionar e se proteger”, afirma Edilaine.

A assistente social afirma que vários fatores podem levar as pessoas a permanecerem em situação de rua, como rompimento de vínculos familiares e sociais, dependência de álcool e drogas, problemas de saúde mental, a violência, falta de moradia, perda de emprego ou pobreza extrema, entre outros. 

Encaminhamentos para o mercado de trabalho – O Centro Pop faz o encaminhamento para vagas de emprego, por meio da Agência do Trabalhador, e também conta com o apoio espontâneo de empresários locais. Essa parceria tem gerado resultados concretos, com histórias de superação

Um dos exemplos é o de Paulo Soares Moreira, 34 anos.  A coordenadora do Centro Pop conta que, após um período em situação de rua, Moreira buscou apoio para retomar a vida profissional. O reencontro com o mercado de trabalho aconteceu de forma inesperada. “Enquanto trabalhava como flanelinha na região central, Paulo conheceu um empresário que lhe ofereceu uma oportunidade de emprego e hoje ele trabalha com carteira assinada”, comemora Edilaine. 

A assistente social afirma que Paulo Moreira retomou a vida e vive com sua companheira  numa casa alugada no Núcleo Vale Verde. “Ele segue acompanhado pelo CRAS, em um processo de consolidação da sua autonomia e já pensa em acessar um projeto habitacional para conseguir a casa própria”, completa Edilaine. 

Escuta especializada – No Centro Pop, a partir deste ano há profissionais de psicologia que fazem a escuta especializada. O trabalho é realizado pelo psicólogo Diego João da Silva Bilatti, que conta com o apoio da estagiária Maria Gabriela Fonseca de Oliveira.

Os profissionais promovem rodas de conversa, oficinas e atividades de fortalecimento da cidadania. Esses encontros abordam temas como saúde mental, cultura, gênero, convivência e reinserção social, buscando despertar o sentimento de pertencimento e de possibilidade de reconstrução pessoal. Além das atividades em grupo, há atendimentos individuais, visando acolher quem procura apoio emocional ou orientação específica.

Ações conjuntas fortalecem atendimento – O Centro POP realiza ações conjuntas com outros órgãos da rede de atendimento. Todas as sextas-feiras, uma equipe do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) se une ao grupo de abordagem social durante o período da manhã, levando atendimento direto às ruas. 

Essas ações também contam com a presença de um profissional de enfermagem que faz a aferição de pressão arterial e encaminhamentos para uma Unidade Básica de Saúde quando necessário. Cuidados odontológicos também são articulados com a rede municipal, além do encaminhamento para tratamento com especialista na área de saúde mental.